Aurélio Noce, o primeiro presidente
- Jorge Angrisano Santana
- 18 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Cosenza, Itália, 1890; Rio de Janeiro, 04abr80
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De Cosenza para Belo Horizonte
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Gaetano Noce (e seu irmão Rafaello) veio da Calabria, em 1898 sonhando construir grandes obras e ficar rico. Seu primeiro emprego foi na construção e manutenção de ferrovias, em Nova Lima. Quando juntou dinheiro suficiente, comprou uma casa na Avenida do Comércio (atual Santos Dumont), esquina de Rua São Paulo, na Capital. Só então, pode mandar buscarm, na Itália, sua mulher Rosina e os filhos Alberto, Aurélio, Aída, Elvira, Ermelinda e Batista. No Brasil, nasceram Alfredo (em 1900), Humberto (1902) e Raquel (1904). Em 1905, Rosina morreu e Gaetano teve de criar a filharada sozinho.
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Como era costume entre imigrantes, eles não se permitiam luxos nem desperdícios, nem tinham tempo para estudar. Cada filho aprendeu um ofício e todos passaram a manter a casa, começando pelos mais velhos, Alberto e Aurélio, que abriram uma barbearia em Nova Lima. Com o tempo, todos tinham seus próprios negócios e Gaetano não precisou mais trabalhar.
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Até encontrarem sua vocação, os irmãos Noce foram mudando de ramo. O primogênito Alberto, sério, quase sisudo, abriu uma alfaiataria com o irmão Humberto na esquina de Espírito Santo e Carijós. Aurélio, o segundo filho, extrovertido, alegre e galanteador tinha perfil de comerciante, o que animou Rafaello Gagliardi, dono da Casa Gagliardi, loja de moda masculina na Avenida Afonso Pena, a fazer dele seu sócio.
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Desfeita a sociedade, Aurélio abriu o Bazar Americano na Avenida Afonso Pena, entre Tamoios e Bahia. A loja vendia de tudo e ficou conhecida como a “loja dos dois mil réis” porque esse era o preço básico de suas mercadorias. Simpático e galanteador, Aurélio ficou famoso pelo sucesso comercial e pelas belas mulheres que namorou.
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A missão
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Mas o que deu celebridade aos dois irmãos foi a missão de organizar o Palestra que receberam da assembléia de fundação, em 2 de janeiro de 1921. Aurélio já era um comerciante de sucesso quando foi procurado pelos jovens dissidentes do Yale que pretendiam fundar uma agremiação italiana. Até então, ele era apenas um peladeiro, segundo depoimento ao número 9 da revista Grandes Clubes Brasileiros de 1971: “eu jogava apenas umas peladas, mas era adepto fervoroso do esporte”. Como presidente, ele tratou de aglutinar a colônia, motivando os mais ricos a contribuírem financeiramente e os mais jovens a participarem como atletas e sócios. Em seguida, foi á luta para colocar o clube na Primeira Divisão da Liga Mineira.
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Alberto foi o sucessor de Aurélio e foi quem tocou a obra de construção do estádio do clube. Mas foi Aurélio que, valendo-se de sua diplomacia trouxe o Flamengo para o jogo inaugural, em setembro de 23. Coisa que espantou a cidade. Afinal, por que um time da Capital Federal se daria ao trabalho de fazer uma longa viagem de trem até a Capital mineira? Mas Aurélio não só obteve sucesso nessa tarefa como ainda trouxe vários craques do Palestra paulista para reforçar o mineiro.
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Difícil para ele, naquele tempo, era levar seu time para jogar em Nova Lima, onde a torcida nunca recebia os visitantes amistosamente e os jogos, invariavelmente, acabavam em pancadaria. O Palestra também tinha seus brigões e Aurélio nunca se esqueceu das batalhas protagonizadas por seu Diretor de Esportes João Ranieri contra torcidas e dirigentes dos outros times da Liga. Como também nunca se esqueceu das festas que o Palestra promovia em sua sede da Praça Sete e que rivalizavam com as do elegante Clube Belo Horizonte.
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Com o tempo, Aurélio afastou-se do futebol, mantendo-se apenas como um dos mecenas que ajudavam o clube a semanter vivo. Mas até essa ajuda ele cortou com o advento do profissionalismo. E seu distancioamento aumentou de vez quando, em outubro de 48, seu irmão Alfredo morreu de infarto pela emoção de um gol na vitória do Cruzeiro sobre o Villa por 3 x 1 no campo do América. Depois disso, virou torcedor de rádio. Um ouvinte intermitente, desses que ligam e desligam o aparelho a todo momento para tomar fôlego. Foi assim que ele ouviu a decisão do campeonato de 59 quando o Cruzeiro venceu o Democrata, de Sete Lagoas, uma de suas maiores alegrias no futebol.
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De Belo Horizonte para o Rio de Janeiro
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Nos Anos 40, Aurélio deixou Alfredo gerenciando a “loja dos dois mil réis” e foi implantar a Loja Noce na Rua Sete de Setembro, no Rio (com filial em Juiz de Fora). Durante alguns anos, ele ainda viveu entre Belo Horizonte e o Rio até mudar-se definitivamente nos Anos 50. Daí em diante, só acompanhou o Cruzeiro pelos jornais. Mesmo assim, sabia o suficiente para considerar o time que Felício Brandi e Carmine Furletti montaram nos Anos 60, o melhor de sua história. Como nunca foi um saudosista, compreendia perfeitamente a evolução do futebol: “Vi grandes jogadores na época do amadorismo, como Nininho - o melhor lateral-esquerdo que vi atuar - Rizzo, Piorra, Armandinho e outros. No entanto, os craques de agora são bem mais preparados e não podemos negar que Tostão é, sem dúvida alguma, a maior expressão do Cruzeiro e do futebol mineiro.”
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A passagem dos irmãos Noce pelo Cruzeiro serviu para acertar as contas do velho Gaetano com seu destino. Ele queria construir grandes obras, mas foram seus filhos que dirigindo ou jogando, ajudaram a constriur o Cruzeiro, algo muito além da imaginação do imigrante calabrês.
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Livro: Palestinos, de Jorge Angrisano Santana
JS, qual foi o horário de início da Assembleia da fundação em 2 de janeiro de 1921?
A ferrovia está sucateada, a viagem de trem não existe mais e o Cruzeiro agoniza. Não valorizamos o passado e criticamos o presente. Essas parecem ser as estratégias para o futuro. O meu respeito a família Noce e palmas para o Síndico por compartilhar conhecimento.
Assumo minha parcela de culpa pelo esquecimento do tema do post. Figura marcante do clube. A historia da imigracao italuana no inicio do seculo eh incrivel, milhares de familias que deixaram marcas em todos os meios sociais.
AURÉLIO NOCE não deu ibope. Cruzeirense não quer nada com a história do seu clube.
PAULO EDUARDO, beque de 18 anos do Cruzeiro, está na mira das frangas, segundo o Uol, Bruno Vicntin é o agente do atleta. Não vai dar jogo, Melhor as frangas investirem no J Lucas ou no Giovanni.