Conceição do Pará tem FlaFlu e RapoCota
- Jorge Angrisano Santana
- 24 de out.
- 3 min de leitura
GISELE BICALHO
Mesmo que não seja uma unanimidade, muitas vezes, o futebol pauta as conversas da família. Divide espaço e atenção com outros temas tão nobres quanto. Confesso que para tristeza da minha alma cruzeirense, por aqui a torcida atleticana é maioria. E isso não é de hoje. Meu avô era Galo, meus tios também. Minha mãe, torcedora fanática, transmitiu a paixão aos netos. Um exemplo está na residência dos Bicalho Resende Cabral Marra: por lá, ai de quem mencionar rebaixamento ou pontos perdidos. Expulsões, gols anulados e faltas são sempre culpa do juiz. O VAR, é claro, também costuma levar a bronca.
Como você já deve ter percebido, sou a legítima representante da minoria. Desde que Papai se foi, sou a única cruzeirense da família. Gilda não conta. Diz que torce pelo Cruzeiro porque acha o uniforme bonito. Pode isso, Arnaldo? Eu e Papai, pelo contrário, sempre tivemos orgulho de torcer pelo Cruzeiro. Não me lembro da última vez em que estive no Mineirão para assistir a um jogo do Cabuloso. Mas nada que a TV e a internet não resolvam. Hoje em dia, prefiro torcer do meu cantinho.
Essa paixão vem de longe. Na adolescência, Beatles e astros da Jovem Guarda dividiam o foco da minha atenção com Tostão. Colecionava jornais e revistas que estampavam manchetes sobre os feitos desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Para quem não viveu essa época, nunca é demais lembrar: Tostão, ainda menino, já encantava com a bola nos pés. Após breve passagem pelo América Mineiro, tornou-se ídolo no meu Cruzeiro, clube que o contratou em uma história curiosa, com o diretor Felício Brandi atrasando o próprio casamento para garantir seu talento.
Em 1966, liderou a inesquecível vitória sobre o Santos de Pelé, mas recusou o título de “Novo Rei”, reverenciando o verdadeiro. Meio-campista por função, artilheiro por vocação, marcou 249 gols e brilhou também na Seleção Brasileira.
História do craque à parte, também vivi momentos emocionantes, acreditem ou não, com ídolos atleticanos. No tempo da delicadeza, em uma fila de embarque do Aeroporto de Confins, venci minha timidez e pedi dois autógrafos ao Gilberto Silva. Para quem tem pouca memória, esse craque nascido em Lagoa da Prata brilhou no Atlético, na Seleção Brasileira e em clubes do exterior. O autógrafo da Mamãe ainda está em uma das muitas caixas de lembranças que guardamos após sua partida. Quanto ao do João Guilherme, creio que ele ainda tem. A conferir.
Em Conceição do Pará, apesar da tradicional rivalidade entre os grandes clubes mineiros, duas outras torcidas se destacam pela paixão e pela história. E isso não é de hoje. O Flamengo local, fundado na década de 1940, é o clube mais antigo do município. Desde 1990, lidera o ranking de títulos no campeonato municipal e ostenta um feito único: é o único time da cidade a conquistar a Liga de Pitangui, orgulho que seus torcedores, entre eles, João Cabral, fazem questão de lembrar.
Meus tios Francisco, Gualter, Hudson e Guilherme vestiam o vermelho e preto do Flamengo com orgulho. Jogavam no time da cidade como se estivessem no Maracanã, mesmo que naquela época o campo fosse de terra batida e as traves, tortas. Tio Francisco, Tio Gualter e Tio Hudson eram craques. Já o Tio Guilherme, fofocas à parte, não passou do banco de reservas. Desistiu cedo do gramado do Estádio Jair Lacerda, o Lacerdão, onde uma escalação famosa deixou saudades: Zé Modesto, Gualter, Hudson, Chiquinho, César Omar, Tonho da Inhá, Geraldo Peixinho, Luciano, Magela, Marco Túlio e Tunico do Raul formavam o time dos sonhos.
O Fluminense, fundado por outra família, era o adversário. Mas adversário não é inimigo. Fora das quatro linhas, todos eram amigos, vizinhos, compadres. A rivalidade era saudável, quase poética: começava com o apito do juiz e terminava com cerveja gelada e conversa fiada no bar da esquina. O Fluminense de Conceição, fundado em 1990 pelo senhor João Raimundo dos Santos, era formado majoritariamente por membros da família Modesto, que ajudaram a construir a identidade do clube dentro e fora de campo.
Hoje, quando Fluminense e Flamengo se enfrentam, ou quando o Galo e o Cruzeiro entram em campo, não é só futebol. É memória Atlético . É como se meu avô ainda estivesse ali, com o dedo no rádio, ouvindo os comentários do Kafunga, e meus tios discutindo se foi pênalti ou não. É a história da minha família correndo solta pelo campo da cidade, entre gritos, risos e uma paixão que, no fundo, sempre foi sinônimo de união.



SÉRIR B: 6 JOGOS, 1 EMPATE, 5 VITÓRIAS DOS VISITANTES.
Segundo os setoristas do porco, Abel não poupará os titulares e vai com força máxima disponível amanhã.
Mirassol ganhou mais uma e desta vez na Ilha. Não perdem mais. Três vitórias seguidas. O único time entre os 4 que teve uma sequência recente dessa foi o líder, Parmeira. Se o time do Jardim não abrir o olho, perderá a quarta colocação já no outro final de semana.
Acho que o Cruzeiro será o único time da parte superior da tabela a perder pontos pro lanterna e virtualmente rebaixado. Fiasco!
Até agora sem entender como o Cruzeiro quase perdeu pra esse time do Sport em casa.