Esquisitices nos rótulos

História contada na ponta dos dedos

Gisele Bicalho

Tenho alguns gostos que, admito, são um tanto peculiares. Um deles? Papel de bala. Não sei se você já reparou, mas muitos são lindos, verdadeiras obras de arte em miniatura. Na maior parte das vezes, compro balas não só porque sou uma formiga assumida. Compro também porque me encanto com a embalagem. O design é surpreendente. E aí me pego pensando: se hoje temos a facilidade da Inteligência Artificial, antes eram os criativos que viravam noites imaginando como faria alguém escolher a bala de mel em vez da de morango.

Outra coisa que me chama atenção são os nomes dos vinhos. Com esse frio ando doidinha por um Malcriado. Tem também o Rapariga e o Le Vin de Merde (O Vinho de Merda). A lista é extensa. Que tal Fat Bastard (Bastardo Gordo)? E Mil Demônios? Seguindo tem o Mosquita Muerta, Cat’s Pee on a Gooseberry Bush (Xixi de gato em um arbusto de groselha), Mad Housewife (Dona de casa louca) e Blasted Church (Igreja bêbada).

Alguns são autoexplicativos, como Menage à Trois, Chupacabra, Excomungado, El Tramposo (O malandro), Fourplay (Preliminares) e o Finca la pica” (ops!). Outros vão além do substantivo ou do adjetivo e carregam sujeito, verbo e predicado no nome. É o caso do Dark Side of the Moon, ou seja, Lado escuro da lua, que também é o nome de um álbum clássico do Pink Floyd.

Tem ainda aquele que é uma verdadeira expressão. É o caso de Ball Buster, algo que pode ser traduzido como “mulher que questiona a virilidade de um homem” (ops de novo!). E o que dizer dos nomes que são verdadeiros xingamentos ou palavrões? Temos exemplos (e que me perdoem os mais puritanos (ou seriam comedidos?). Que tal Feisty Bitch (Vadia empoderada)? Temos também o Horses Ass, ou seja, bumbum de cavalo. E o que dizer de Follador e o De Puta Madre? Ambos dizem respeito, você sabe, né? Aquele é filho da p… (ops!)

Por outro lado, temos os meigos, tipo Mommy’s Time Out, ou seja, Descanso da Mamãe. Fofo, né? A lista dos nomes estranhos vai muito além dessa. E o que dizer de Tramonto d’Oca (Pôr do sol do ganso), French Maid (Empregada Francesa)? E de Cojón de Gato (Testículo de gato). Tem ainda o El Gordo del Circo)”, Malo” (ruim ou mau), Il Sangue di Giuda (o sangue do Judas) e Bestial. Vai saber o que vai pela cabeça dessas pessoas, né mesmo? Melhor abafar o caso. Se você fizer uma busca rápida no Google vai se surpreender com a criatividade (ou seria à falta dela?) dos marqueteiros contratados pelos produtores de vinho.

Para além de papel de bala e do rótulo de vinho, outra coisa que me encanta e me surpreende é nome de esmalte. Ou vai me dizer que nunca reparou na criatividade de quem cria os rótulos? São verdadeiras pérolas. Esquentado a cachola pra descobrir o que será que passa pela cabeça da pessoa (ou do grupo de criativos) quando decide que o esmalte verde escuro vai se chamar “Só vim pela comida”? E o azul Azulcrination? Tá mais para uma banda de rock. Só que não. É cor de esmalte. Tem também o “Me belisca”, cor que, acredito, é bem adequada para você usar no dia em que ganhar na loteria. A lista não para por aí. Tem o Credo, que arraso!, Champa, Dance mais, Tim Tim, Leo mandou flores … Os nomes são tão inusitados que dá até para arriscar uma espécie de narrativa (ops!), fictícia, é claro:

Passei o “Só Vim Pela Comida” nas unhas e fui. Afinal, casamento de ex exige presença discreta e ironia nas entrelinhas. No caminho, pensei em trocar pelo “Desfecho”, mas achei agressivo. Vai que ele nota. Já no salão, encontrei a Maria com “Léo Mandou Flores” nas mãos e um sorriso de quem não perdoa nem na hora de pegar o bouquet. A Joana tava de “Credo, que arraso!”, pronta pra dançar até os seus pés pedirem para parar. E eu? Eu só queria um canapé e um gole de “Champa”. No fim da noite, entre um “Dance Mais” e outro “Me Belisca”, percebi que a vida é isso mesmo: uma coleção de tons improváveis, nomes esquisitos e histórias que a gente pinta por cima. Tim tim!

Ah, sobre a minha cor de esmalte preferida? Sou da turma do nude. Quando quero me arriscar, me “amostrar” um pouco mais, apelo para um tom rosinha mais atrevido: o Nail Polish, da Miss Rôse. Nada mais. Lembrando que, num impulso retrô, a Colorama, uma das marcas mais tradicionais do mercado, resgatou algumas de suas cores icônicas. Quem lembra do Zazá, Nariz de Palhaço ou do Jeans? Aguardando a volta do Apache, a que como a Zazá, era a cor preferida da minha mãe. Fica a sugestão.